O Governo Federal deu um passo decisivo rumo à modernização da saúde do trabalhador.
Em 6 de outubro de 2025, representantes dos Ministérios da Saúde (MS), Trabalho e Emprego (MTE) e Previdência Social (MPS) se reuniram em Brasília para discutir a integração dos sistemas CAT e SINAN, conectando informações sobre acidentes de trabalho, agravos e doenças ocupacionais.
A proposta promete cruzar dados entre Saúde, Trabalho e Previdência, reduzindo a subnotificação de acidentes e adoecimentos e criando um modelo de vigilância ocupacional mais inteligente, digital e preventivo.
Mas, além do avanço tecnológico, a medida pode transformar a forma como empresas e órgãos públicos registram, analisam e respondem aos eventos de saúde e segurança no trabalho. Essa integração coloca no centro da pauta uma pergunta essencial: O que muda na SST no Brasil a partir do cruzamento entre CAT e SINAN?
A integração de dados SST entre CAT e SINAN: o elo que faltava
Um dos temas centrais do encontro foi a necessidade de unir as bases de dados da Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT), gerida pelo MTE e utilizada pelo INSS, e do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), sob gestão do Ministério da Saúde.
Essas plataformas registram informações distintas, mas complementares: a CAT formaliza o acidente de trabalho para fins previdenciários e estatísticos, enquanto o SINAN reúne notificações de agravos e doenças relacionadas ao trabalho dentro da vigilância em saúde.
Hoje, essas bases não conversam entre si, o que causa lacunas na análise e no planejamento de políticas públicas. Segundo o diretor do Departamento de Segurança e Saúde no Trabalho do MTE, Alexandre Scarpelli Ferreira, “a CAT mostra apenas a ponta do icebergue”, já que a informalidade e a fragmentação de dados impedem uma visão completa sobre o adoecimento laboral.
👉 Integrar CAT e SINAN é, portanto, um passo estratégico para construir uma política de SST baseada em evidências, com diagnósticos mais reais e decisões mais eficazes.
Subnotificação e informalidade: o principal obstáculo
O aumento da informalidade no mercado de trabalho tem ampliado o desafio da subnotificação de acidentes e doenças.
Grande parte dos casos sequer é registrada oficialmente, o que prejudica não apenas o trabalhador, mas também as estatísticas que sustentam políticas preventivas.
Ao integrar sistemas, os ministérios pretendem cruzar dados e identificar eventos que hoje passam despercebidos, criando um ecossistema de informação mais transparente e confiável.
Categorias vulneráveis e projetos-piloto para integração de dados SST
Entre as prioridades discutidas está a criação de projetos-piloto voltados a grupos com altos índices de adoecimento e informalidade, como caminhoneiros e trabalhadoras domésticas. Segundo o MTE e o MPS, essas categorias historicamente ficaram fora do alcance das políticas de vigilância, mas concentram parte expressiva dos agravos à saúde relacionados ao trabalho.
O objetivo é desenvolver modelos integrados de acompanhamento e promover ações preventivas específicas para esses públicos.
Integração de dados entre CAT e SINAN: o que muda?
A integração entre os sistemas CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho) e SINAN (Sistema de Informação de Agravos de Notificação) representa uma das mudanças mais estruturais na gestão da Saúde e Segurança do Trabalho (SST) no país.
Até hoje, essas bases de dados operam de forma isolada — uma sob a responsabilidade da Previdência e do Trabalho, e a outra sob a Saúde. Essa separação faz com que muitas informações sobre acidentes e adoecimentos não sejam correlacionadas, alimentando o problema histórico da subnotificação.
A CAT registra acidentes para fins previdenciários e estatísticos; o SINAN, coordenado pelo Ministério da Saúde, registra agravos e doenças relacionadas ao trabalho no âmbito da vigilância sanitária. Apesar de complementares, esses dois sistemas não se comunicam entre si, o que impede uma visão integrada sobre as causas, consequências e padrões de adoecimento laboral no país.
A principal mudança está na forma como os dados sobre saúde e segurança serão consolidados. Com a integração, o governo passa a construir uma visão única e conectada dos eventos relacionados ao trabalho.
Na prática, isso significa:
✅ Menos subnotificação: cruzamento automático entre CAT, SINAN e eSocial, evitando perdas de dados.
✅ Maior rastreabilidade: será possível acompanhar o ciclo completo de um acidente — da notificação ao benefício.
✅ Coerência entre bases: inconsistências entre registros (exames, laudos e CATs) poderão gerar alertas automáticos.
✅ Políticas públicas baseadas em evidências: decisões passam a ser orientadas por dados reais de adoecimento e exposição.
✅ Foco preventivo: a análise integrada permitirá identificar setores e atividades com maior incidência e antecipar riscos.
Com isso, o país dá um passo importante rumo a uma vigilância ocupacional mais moderna, inteligente e preditiva, baseada em dados conectados entre Saúde, Trabalho e Previdência.
Essa integração marca a transição de um modelo reativo para um modelo preventivo, em que a informação se torna a principal ferramenta de proteção à saúde do trabalhador.
eSocial: a substituição definitiva dos documentos físicos
Desde janeiro de 2023, o eSocial é o meio oficial e obrigatório para envio das informações de Saúde e Segurança do Trabalho (SST).
Na prática, o eSocial substituiu os formulários e documentos físicos, digitalizando o registro das obrigações:
S-2210 → equivale à CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho)
S-2220 → é o Monitoramento da Saúde do Trabalhador
S-2240 → é o novo PPP eletrônico (Perfil Profissiográfico Previdenciário)
Essa substituição consolidou a governança digital da SST, permitindo o cruzamento de dados entre Trabalho, Previdência e Saúde, e abrindo caminho para a integração com o SINAN e demais sistemas públicos de vigilância ocupacional.
O eSocial se tornou o repositório oficial da documentação digital previdenciária de SST no Brasil.
Novas frentes: saúde mental, clima e substâncias nocivas
Além da integração entre bases de dados, a reunião abordou novas ameaças à saúde do trabalhador, como:
- Adoecimento mental e estresse ocupacional, cada vez mais presentes nos afastamentos;
- Impactos das mudanças climáticas, que alteram condições de exposição e intensificam riscos ambientais;
- Exposição a agentes químicos nocivos, como amianto, benzeno e mercúrio, ainda frequentes em diversos setores.
- Esses temas reforçam a necessidade de políticas públicas interministeriais e multidisciplinares, unindo vigilância epidemiológica, inspeção do trabalho e previdência social.
- Base legal e fortalecimento das políticas de SST
A integração entre os ministérios está respaldada pela Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (Portaria GM/MS nº 1.823/2012) e pela Política Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho (Decreto nº 7.602/2011).
Esses instrumentos legais determinam que a proteção à saúde do trabalhador deve envolver diferentes esferas de governo, com ações articuladas e baseadas em dados confiáveis.
A conexão entre CAT e SINAN representa o cumprimento prático dessas diretrizes, permitindo monitorar agravos, identificar causas e prevenir reincidências de forma coordenada.
Integração de dados SST: impactos para empresas e profissionais
Para o setor público, a integração traz maior precisão na vigilância e na formulação de políticas preventivas. Para as empresas, representa um novo patamar de responsabilidade sobre a qualidade e consistência das informações enviadas aos sistemas oficiais, como o eSocial.
A coerência entre registros internos, comunicações de CAT e laudos de saúde ocupacional será critério essencial de conformidade, exigindo sistemas integrados e governança de dados segura, conforme a Lei Geral de Proteção de Dados (Lei 13.709/2018).
Conclusão
A reunião interministerial de outubro de 2025 marca um avanço decisivo na governança de dados da saúde do trabalhador. A integração entre CAT e SINAN não é apenas uma questão tecnológica.
É també, um instrumento de transformação social, que permitirá compreender melhor o cenário de adoecimento laboral e orientar ações preventivas mais eficientes.
Ao conectar informação, tecnologia e política pública, o Brasil dá um passo importante rumo a uma gestão de SST mais integrada, inteligente e voltada à prevenção. A integração entre CAT e SINAN marca uma nova fase da gestão pública da SST no Brasil, transformando dados dispersos em informação estratégica e unindo tecnologia, prevenção e transparência.
A notícia completa pode ser consultada no site oficial do Ministério da Saúde.




